Unidade Didáctica - Fotografia (cont.)


A fotografia está como nunca presente nas nossas vidas. Constantemente nos são veiculadas imagens fotográficas, não só pelos jornais, revistas e folhetos publicitários mas também, e de forma cada vez mais prolífica, por via digital.
Virtualmente, qualquer pessoa teve já alguma experiência na captação de imagens fotográficas (por exemplo com o telemóvel), contudo uma grande parte apenas contactou com a fotografia num estado tecnologicamente muito avançado, ignorando por completo os princípios e os processos básicos da fotografia.
Apesar da facilidade e imediatismo dos novos métodos, a fotografia "tradicional" continua a ser particularmente rica em princípios e processos básicos da física e da química, isto sem falar nas suas potencialidades comunicativas.

A fotografia estenopeica ou pinhole (do inglês, buraco de agulha) é ideal para nos familiarizarmos com estes conceitos de uma forma concreta e eficaz.
A economia de meios e o envolvimento integral do sujeito no processo fotográfico (desde a construção da câmara fotográfica à revelação das fotografias) são as principais vantagens deste medium fotográfico que tira partido de um mecanismo muito simples de formação de imagens, já descrito por Aristóteles - a câmara escura. Uma câmara escura não é mais do que um espaço ou compartimento fechado, que pode ser um quarto, uma caixa ou mesmo o interior de uma lata. Esse espaço terá pelo menos um pequeno orifício a partir do qual entrará a luz que projectará uma imagem (invertida) do objecto que nos interessa fotografar.

Aplicar uma actividade deste tipo nas escolas exige alguma preparação, sendo necessário pedir previamente aos alunos para trazerem recipientes que possam ser fechados e abertos repetidas vezes (caixas, caixotes ou latas). Escolha os mais compactos e interessantes e distribua-os pelos alunos, dividindo-os em grupos de trabalho de dois elementos.
Deverá fazer uma breve exposição da actividade analisando fotografias convencionais e fotografias pinhole, aflorando pontos importantes da história da fotografia, comparar uma câmara fotográfica "normal" com uma câmara construída...
Explique todo o processo de captação de imagens com uma câmara fotográfica pinhole desde a sua construção até ao processo de laboratório (sendo aconselhável que experimentar todo o processo antes de iniciar a actividade), aplicando conceitos fotográficos importantes como a profundidade de campo, a distância focal, o diafragma, o obturador, entre outros.
Proceda à construção da câmara fotográfica, nos moldes que a seguir se descrevem, e siga o link no final do texto para obter mais informações sobre vários procedimentos relacionados com este tipo de fotografia.

"Para se fazer uma câmara pinhole é muito fácil; basta termos à mão o material necessário, que pode ser desde uma simples caixa de sapatos, lata de leite em pó ou algo semelhante (desde que tenha tampa) como uma caixa de madeira um pouco mais elaborada. O primeiro passo é transformar esta caixa numa câmara escura. Para isso é necessário escolhermos uma caixa com uma tampa que vede bem o interior da mesma. Com tinta preto-fosco pintamos o interior da câmara, inclusive a tampa. Podemos também utilizar como forro uma cartolina preta ao invés da tinta, o importante é mantermos a câmara realmente escura para evitar efeitos de difracção da luz que podem ter efeitos indesejáveis nas fotografias. Depois, com o auxílio de uma agulha, furamos um pequeno buraco numa das laterais da caixa/câmara. Em alguns casos, onde a dureza do material usado para câmara não permita um furo perfeito (que é fundamental), devemos fazer um buraco maior e colar sobre ele um pedaço de alumínio ou um retalho de latinha de cerveja e neste sim, fazermos o furinho de agulha. Isto irá facilitar e melhorar o trabalho.
É importante observarmos que o tamanho do furo deve ser o menor possível, com um diâmetro que não ultrapasse o da ponta da agulha. Isto é relevante em termos de definição focal e nitidez da imagem, devemos entender que, em geral, uma imagem desfocada é consequência de um furo muito grande, isto em relação ao tamanho da câmara. Evidentemente que para cada tipo e tamanho de câmara, o furo deverá ser proporcional à distância focal, sendo que chamamos de plano focal a distância ideal onde a imagem é projectada com o melhor foco. Considerando que para uma pequena câmara, tipo caixinha ou lata, fazemos um furo com uma agulha, para uma câmara de grandes proporções, podemos chegar a ter câmaras com um furo com diâmetro de um dedo polegar. Podemos também usar tabelas de cálculo para conseguimos um furo no tamanho ideal e preciso. Contudo, não despreze o entendimento empírico, experiência artesanal e a simplicidade, como oportunidades/espaços de aprendizagem.
O segundo passo será o de verificarmos que não exista nenhum outro ponto por onde a luminosidade externa possa entrar além do orifício já feito. Este por sua vez deverá ser vedado pelo lado de fora da com um pedacinho de fita isoladora preta, que servirá como o dispositivo de controlo da entrada de luz no interior da câmara (obturador). Temos assim uma câmara fotográfica pinhole pronta para o uso. Basicamente, a câmara é feita assim. Podemos, à medida em que vamos experimentando, aperfeiçoar um pouco mais e adaptar a câmara à nossa maneira e conforme a meta que pretendemos atingir.
O tamanho e o formato das imagens que a câmara produz dependem, quase sempre, do tamanho e formato usados para construí-la. Como foi dito anteriormente, podemos fazer e usar câmaras pinhole de todos tipos e tamanhos, é possível conseguir os mais diversos efeitos. Se por exemplo, a ideia é obter fotografias com efeitos distorcidos, tipo grande angular, podemos usar uma lata redonda para ser a câmara ou então colocarmos o material sensível à luz (papel fotográfico ou filme) curvado lá dentro. Se fizermos ao invés de um, dois ou mais furos na câmara, teremos imagens sobrepostas e duplicadas. A dupla exposição também provoca sobreposição de imagens. Estes e outros efeitos podem ser conseguidos e explorados, dependendo tão-somente do engenho e criatividade de cada um." [+]

Depois de ter construído as câmaras com os seus alunos é tempo de tirar fotografias.
Como já foi referido, antes de iniciar a actividade é conveniente fazer alguns testes, desta forma poderá definir um tempo médio de exposição para as câmaras fotográficas ajustando-o aos materiais com que está a trabalhar e às condições de luminosidade.
É importante que os alunos tenham em atenção que os tempos de exposição das suas câmaras são sempre algo prolongados, pelo que devem procurar colocar a câmara numa posição fixa nem que para isso seja necessário colocar um objecto pesado sobre ela, se a câmara estiver sujeita a movimento ao longo da pose as imagens ficarão desfocadas.
Outro aspecto importante, é o facto de as câmaras serem "carregadas" e "descarregadas", (com a superfície sensível: papel fotográfico) num ambiente com luz de segurança ou total escuridão, pelo que é estritamente proibido executar qualquer uma dessas acções fora destes ambientes sob pena de "queimar" o papel fotográfico antes da revelação.
É aconselhável que as fotografias sejam captadas no exterior em dias de bastante sol, uma vez que os resultados obtidos são sempre mais satisfatórios nestas condições, pelo que, deve programar as aulas tendo em conta este aspecto.
Na verdade, o grande senão da aplicação desta actividade reside na dificuldade em controlar os vários espaços em que se desenrola: sala de aula, laboratório fotográfico e exterior. Idealmente deverá desenvolvê-la em par pedagógico com turmas não muito grandes, desta forma será possível um maior acompanhamento do trabalho dos alunos na construção das câmaras, captação e revelação das fotografias.
Algumas aulas deverão ser reservadas exclusivamente para a captação e revelação das fotografias. Deverá formar grupos que se revezem ora tirando, ora revelando fotografias e se trabalhar em par pedagógico um professor deverá colocar-se no laboratório e outro no exterior auxiliando os alunos.